Cá estou eu, cabeça entre as mãos, olhos pra além da janela do quarto, que está impossível de alojar um terceiro elemento porque eu e minha solidão já ocupamos todo o espaço vazio.
Os carros se movem por essas linhas cinza-escuro pintadas entre caixotes cheios de janelas e portinhas. Tudo é diferente daqui de cima do meu décimo andar.
As pessoas parecem mais amenas e um tanto menos emotivas, menos humanas até.
As luzes tremulam na água e os barcos quase não se consegue mais ver. A praia sumiu.
Meu horizonte ficou menor, não sei se pela hora avançada do relógio e pelas lâmpadas quebradas dos postes, ou se pela minha visão que está limitada a ver só uma grande montanha à minha frente.
Negra, alta, parece parar o tempo e os olhares.
Do lado de cá do vidro da janela estou eu, me perguntando se depois dessa montanha está minha casa.
Aqui é meu lar, lá é meu lar. Essa pedra está no meio.
Talvez se eu subir em cima da pedra mais alta eu veja a outra metade da minha casa.
To pensando em me jogar.
Ter uma pedra tão alta no meio da sala não dá, minha mãe já o diz, vai ficar difícil da gente se ver.
Mães sempre tem razão, eu já devia saber disso, desde a época que passei frio porque não levei um casaco quando saí de casa.
Saí de casa.
E do lado de cá? Tem gente que diz que a festa é bonita e a maré é boa de provar. Realmente, tem maré, e é Maravilhosa.
Mas é meio maravilhosa. Com m minúsculo.
M de saudade.
Fico me perguntando se depois dessa montanha está minha casa.
Minha, com M maiúsculo.
5 comentários:
querida, se quiser emprestado um vô e uma vó num fim de semana qualquer, empresto os meus sem problemas viu?? eles iam adorar ter uma menina como você para conversar e com paciencia com eles...
(eu tenho o máximo que consigo!) :p
hahahahaha obrigada minha linda! Iria adorar ter uns avós no fim de semana pra variar :D
Ei, seu blog está de volta! =D
Será que voltamos às duas ao mundo blogueiro de vez? hahaha Acho que só o tempo dirá isso.
Um beijo Cah!
É, a saudade é tensa e
deixa tudo mais intenso..
Acho que te entendo,
eu estava do outro lado da montanha esse fds
mas conta cmg pro que precisar!
um beeeijo!
Nat Lindaaaa!!!
Pois é, a saudade é muito tensa, mas é tão perturbadora que chega a ser sublime, eu acho. (Lembrando do nosso amigo Lopes, Denilson)
Obrigaada amiga, sei que posso contar com você, e a recíproca é verdadeira.
Um beijo!
Sinto-me meio sem-graça de comentar num post antigo de uma desconhecida... Mas lembro-me que o blogspot serve exatamente para isso. Achei seu blog graças a um post na Ciência Hoje sobre uma cutia e um porco-espinho :P
Seus textos são belamente escritos, e esse em especial me chamou atenção. Essa grande pedra também está entre mim e minha família, então senti-me contemplado.
Escreves muito bem, e aconselho-te a fazer o que eu mesmo não faço, e continuar atualizando teu blog!
E um comentário relacionado a um ponto anterior... Sem dúvida um escritor deve provar de boa parte dos sabores que pretende imprimir na sinestesia de palavras, mas o que fazer com os pobres escritores de ficção ou fantasia, que estão à infinita distância daquilo sobre o que escrevem? E se lembrar e imaginar são, no final, quase a mesma coisa, neurologicamente falando, o quão borrada fica a influência da realidade na escrita?
Keep writing! ;)
-- Bruno.
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