29 de maio de 2011

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA MONTANHA



Cá estou eu, cabeça entre as mãos, olhos pra além da janela do quarto, que está impossível de alojar um terceiro elemento porque eu e minha solidão já ocupamos todo o espaço vazio.
Os carros se movem por essas linhas cinza-escuro pintadas entre caixotes cheios de janelas e portinhas. Tudo é diferente daqui de cima do meu décimo andar.

As pessoas parecem mais amenas e um tanto menos emotivas, menos humanas até. 

As luzes tremulam na água e os barcos quase não se consegue mais ver. A praia sumiu.

Meu horizonte ficou menor, não sei se pela hora avançada do relógio e pelas lâmpadas quebradas dos postes, ou se pela minha visão que está limitada a ver só uma grande montanha à minha frente.

Negra, alta, parece parar o tempo e os olhares.

Do lado de cá do vidro da janela estou eu, me perguntando se depois dessa montanha está minha casa.
Aqui é meu lar, lá é meu lar. Essa pedra está no meio.

Talvez se eu subir em cima da pedra mais alta eu veja a outra metade da minha casa. 
To pensando em me jogar.

Ter uma pedra tão alta no meio da sala não dá, minha mãe já o diz, vai ficar difícil da gente se ver.
Mães sempre tem razão, eu já devia saber disso, desde a época que passei frio porque não levei um casaco quando saí de casa.

Saí de casa.

E do lado de cá? Tem gente que diz que a festa é bonita e a maré é boa de provar. Realmente, tem maré, e é Maravilhosa. 

Mas é meio maravilhosa. Com m minúsculo.
M de saudade.
Fico me perguntando se depois dessa montanha está minha casa.
Minha, com M maiúsculo.


5 comentários:

Unknown disse...

querida, se quiser emprestado um vô e uma vó num fim de semana qualquer, empresto os meus sem problemas viu?? eles iam adorar ter uma menina como você para conversar e com paciencia com eles...
(eu tenho o máximo que consigo!) :p

Camille Dornelles disse...

hahahahaha obrigada minha linda! Iria adorar ter uns avós no fim de semana pra variar :D
Ei, seu blog está de volta! =D
Será que voltamos às duas ao mundo blogueiro de vez? hahaha Acho que só o tempo dirá isso.

Um beijo Cah!

Unknown disse...

É, a saudade é tensa e
deixa tudo mais intenso..
Acho que te entendo,
eu estava do outro lado da montanha esse fds
mas conta cmg pro que precisar!
um beeeijo!

Camille Dornelles disse...

Nat Lindaaaa!!!
Pois é, a saudade é muito tensa, mas é tão perturbadora que chega a ser sublime, eu acho. (Lembrando do nosso amigo Lopes, Denilson)
Obrigaada amiga, sei que posso contar com você, e a recíproca é verdadeira.
Um beijo!

Bruno Moraes disse...

Sinto-me meio sem-graça de comentar num post antigo de uma desconhecida... Mas lembro-me que o blogspot serve exatamente para isso. Achei seu blog graças a um post na Ciência Hoje sobre uma cutia e um porco-espinho :P

Seus textos são belamente escritos, e esse em especial me chamou atenção. Essa grande pedra também está entre mim e minha família, então senti-me contemplado.

Escreves muito bem, e aconselho-te a fazer o que eu mesmo não faço, e continuar atualizando teu blog!

E um comentário relacionado a um ponto anterior... Sem dúvida um escritor deve provar de boa parte dos sabores que pretende imprimir na sinestesia de palavras, mas o que fazer com os pobres escritores de ficção ou fantasia, que estão à infinita distância daquilo sobre o que escrevem? E se lembrar e imaginar são, no final, quase a mesma coisa, neurologicamente falando, o quão borrada fica a influência da realidade na escrita?

Keep writing! ;)

-- Bruno.

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