29 de maio de 2011

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA MONTANHA



Cá estou eu, cabeça entre as mãos, olhos pra além da janela do quarto, que está impossível de alojar um terceiro elemento porque eu e minha solidão já ocupamos todo o espaço vazio.
Os carros se movem por essas linhas cinza-escuro pintadas entre caixotes cheios de janelas e portinhas. Tudo é diferente daqui de cima do meu décimo andar.

As pessoas parecem mais amenas e um tanto menos emotivas, menos humanas até. 

As luzes tremulam na água e os barcos quase não se consegue mais ver. A praia sumiu.

Meu horizonte ficou menor, não sei se pela hora avançada do relógio e pelas lâmpadas quebradas dos postes, ou se pela minha visão que está limitada a ver só uma grande montanha à minha frente.

Negra, alta, parece parar o tempo e os olhares.

Do lado de cá do vidro da janela estou eu, me perguntando se depois dessa montanha está minha casa.
Aqui é meu lar, lá é meu lar. Essa pedra está no meio.

Talvez se eu subir em cima da pedra mais alta eu veja a outra metade da minha casa. 
To pensando em me jogar.

Ter uma pedra tão alta no meio da sala não dá, minha mãe já o diz, vai ficar difícil da gente se ver.
Mães sempre tem razão, eu já devia saber disso, desde a época que passei frio porque não levei um casaco quando saí de casa.

Saí de casa.

E do lado de cá? Tem gente que diz que a festa é bonita e a maré é boa de provar. Realmente, tem maré, e é Maravilhosa. 

Mas é meio maravilhosa. Com m minúsculo.
M de saudade.
Fico me perguntando se depois dessa montanha está minha casa.
Minha, com M maiúsculo.